quinta-feira, março 21, 2013

Outra noite



Vemos uma mulher em seu quarto, a luz da luminária acesa insinua as coisas mais do que mostra deveras. A mulher tem a sua frente uma página em branco posta sobre a máquina de bater palavras. Tem um gosto moderno pelo antigo. Ela sabe que em seu filme haverá duas pessoas, um rapaz barbado e a menina de franja torta e sorriso entre parênteses. Ela não os inventou, estes personagens tão dela, nalgum canto eles vivem, adivinha. O mundo é que será feito peça a peça a se encaixar no que eles são. É que para eles serem o mundo teve que ser antes, daí todo o cuidado. Eles são criaturas que absorvem tudo com sede e fome. Há que se dar comida e água.


Ele deve se encaixar nela. A mulher no quarto bate isso na máquina — Ele se encaixa certinho nela. Isso não vai dito no filme, tem que se saber na respiração dos atores. Poderia até mesmo ser cinema mudo, de tanto que eles têm dito com os olhos. É que a mulher no quarto conheceu um dia o amor, sabe que ele não é de falar muito. Ela, a personagem do filme, gosta de Belle and Sebastian, portanto, Belle and Sebastian só existe para que ela goste e mostre para ele. Então a mulher bate na máquina — Eles ouvem músicas juntos. Ela tira o sapatos e ele então percebe o convite. Dançam. Ela ri do jeito dele, a câmera destaca o rosto dela, de ser a visão dele, e o resto todo é desfoque. Paixão tem esse desfoque nas coisas outras. Os olhos vêem no chão sapatos e a vontade enxerga mesmo os pés. Na parede dele, os quadros em destaque pintam o sorriso dela. Isso dá cena: eles no museu e invés de Klimt, enxerga-se a boca dele no pescoço dela.    

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